Estou em Deriva pelo centro (POA), andando lentamente, por um certo incomodo no joelho esquerdo. Encontro um fotógrafo com o qual, seguidamente, converso. Em seguida o assunto é o ensaio fotográfico que realizei recentemente. Com uma modelo tatuada, de meia idade. Falei de iluminação (sobre a necessidade que tenho de fazer um novo curso), assim como sobre utilização do fundo infinito preto. Recurso que faz alguns anos que utilizo. Aprendi a usá-lo com um velhíssimo fotógrafo carioca e que, recentemente faleceu. Fiz algumas outras observações sobre o fato de que comecei a fotografar, em 1972, quando comprei minha Pentax SP1000 (que tenho até hoje), na antiga casa Cambial. Falei de que tenho um razoável acervo de nus femininos. E tenho anos fotografando mulheres. Cuja guarda é da minha neta. Trocamos várias ideias sobre fotos de rua, abordagem e aproximação para solicitar a produção de uma imagem. Lá pelas tantas, tenho certeza de que sem nenhum sentido de maldade, ele pergunta:
– e depois da sessão rola um clima? Durante?
– respondo no automático, de jeito nenhum. A regra básica que não pode ser quebrada é não botar a mão em hipótese nenhuma.
Ele fica em silêncio. Eu sigo falando.
– A outra regra é cumprir rigorosamente o que ficar combinado. Digo a ele que já aconteceu alguns envolvimentos, algum tempo depois, como história desvinculada da atividade fotográfica já realizada. Já aconteceu de um breve envolvimento virar namoro. Nunca durante a atividade fotográfica. Repito, A REGRA BÁSICA É NÃO COLOCAR AS MÃOS. Aproveito para escrever e ressaltar este aspecto, tendo em vista que tenho certeza que perdi algumas oportunidades (sessões fotográficas) por temores de uma ou outra “modelo” que gostaria de ter sido fotografada por mim. Sei que serei lido por muitas pessoas. No meu caso trabalho em casa. Tenho o estúdio na caverna. Preciso ter certeza de para quem abro o local. Se comportar, a partir desta regra básica e fundamental, permite a partir de um determinado momento que a modelo (com absoluta segurança) conceda, o que estou pedindo. Quando tenho interesse como namorada esqueço a fotografia. Depois, sim, vira modelo. As estações não podem se confundir.
Produzimos imagens para melhor imaginar!Vilém Flusser