Sonhei que teria uma leica

Ao descobrir o jornalismo como profissão, simultaneamente, comecei a imaginar o dia em que teria uma máquina de escrever Remington. A ideia do lidar com as palavras do texto, da minha língua, do escrever (definitivamente) me colocou em relação direta com o mundo. E, num dado momento, agora perdido na memória, descobri que também se fazia jornalismo com fotos. Pela primeira vez ouvi falar em Rolleiflex e Leica. Também está perdido num canto qualquer da minha memória quando, pela primeira vez, ouvi o nome de Henri Cartier-Bresson e de Robert Capa. Acho que a foto de um republicano, sendo atingido por um tiro na Guerra Civil Espanhola, de Capa, é decisiva. No meu primeiro salário, ainda não trabalhando como jornalista), comprei minha primeira máquina de escrever. Uma Remington usada toda de ferro. Por isso mesmo é para mim um clássico “A Máquina de Escrevera era da mania do ferro”, de McLuhan. Talvez o primeiro emprego mais próximo de todo este universo tenha sido como laboratorista de uma agência de publicidade, onde tinha como principal atividade fazer cópias fotográficas para os anúncios. É possível que mais próximo ainda do universo do jornalismo tenha sido escrever e mimeografar pequenos jornais, para distribuição em portas de fábricas, no final da década de 60, como o Resistência Operária. Ou ainda os panfletos dos tempos do Colégio Júlio de Castilho (Porto Alegre). Sempre imaginei que um dia também teria uma Leica. Pois passados alguns anos – já exercendo a profissão de jornalista (Rádio Continental, após dois anos de cadeia/ 1972) comprei uma, modelo 1937. E ainda hoje, quando faço uso desta câmera, fico imaginando como era possível fazer fotojornalismo com uma máquina que exige tantas regulagens manuais. A imagem da primeira página de abertura do sítio pontodevista é a lente desta Leica. Temos registrado no linque Álbum Fotográfico – com imagens de câmeras analógicas e com digitais -o avassalador avanço destas últimas. Teremos um século de milhões de imagens, agora digitalizadas. Saudade de Cartier-Bresson.

(wu)

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